segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Dor

[...] A dor física é algo inexistente. A ausência dessa sensação só é possível devido à capacidade que tais indivíduos possuem de atingir um estado alterado de consciência. Num primeiro estágio, a alteração que se da com a separação entre consciência e o corpo físico, entre o processo mental que desenvolve a razão e o processo sensorial que se desenvolve pelo tato, faz com que o indivíduo deixe de perceber a dor como uma sensação de desprazer, produzida por uma estimulação desagradável e inesperada em determinada parte de seu corpo, e passe a percebê-la como um registro de algo que acontece em seu corpo. No caso específico das alterações corporais, de algo que está sendo aplicado ao corpo. Em outras palavras, ele deixa de sentir a dor e passa a observá-la.

“O aspecto negativo da dor (sensação forte e inesperada) existe somente para pessoas que são relativamente pouco desenvolvidas. Através da educação e da pratica, é possível transcender, transformar ou mudar uma sensação em uma outra coisa qualquer. [...] O corpo sente a sensação, mas é possível aprender a separar rapidamente a consciência da sensação, e assim não se trata mais de dor.” (Fakir Musafar)

A beleza, por ser uma característica do que é perfeito e harmonioso pode ser entendida como a definição estética de sublime. A dor, não apenas a dor física que é a materialização do sofrimento, mais a espiritual também, é uma sensação desagradável que remete naturalmente a dificuldades e a sentimentos de desprazer. Através da convivência com a dor e da sua superação, o indivíduo adquire percepções mais elevadas tanto nos campos psíquicos, moral, ético como no sentimental. Atingir um grau elevado nas escalas de qualquer um desses valores significa estar inserido na definição espiritual de sublime. Pensando dessa forma, é possível associar beleza a dor.

Retirado do livro “O corpo como suporte da arte – piercing, implante, escarificação e tatuagem” de Beatriz Ferreira Pires - Editora Senac São Paulo.

Na foto, La Negra fazendo "O-Kee-Pa suspension".

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