Entrevista com T. Angel, criador do site FrrrkGuys

A partir de hoje teremos uma novidade aqui no blog, uma entrevista por semana.
Abrindo a sessão de entrevistas com chave de ouro, o entrevistado de hoje é T. Angel, criador do site que virou sucesso na internet, o FrrrkGuys.

• Nome: Thiago Soares - T. Angel
• Idade: 27 anos
• Profissão: Responsável Geral pelo FrrrkGuys
• Formação Acadêmica: Graduado em História pela Universidade FIEO

Com quantos anos começou a se modificar?
Desde que nasci, a gente não nasce pronto, não é mesmo? É um processo de se "auto-fazer". Todavia, as modificações entendidas dentro dos Primitivos Modernos começaram aos 16 anos.

Qual a sua modificação mais extrema?
Não sei se são as mais extrema, mas a que mais exigiram de mim, foram os transdermais da cabeça.

Quais os planos futuros para novas modificações?
Atualmente estou no processo do "Project: Ang3l", ele consiste em algumas modificações temporárias e outras definitivas. Quando eu terminar esse trabalho poderei ter uma melhor noção do que (mais) vem pela frente.

Com que tipo de pessoa você costuma se relacionar?
Virtualmente e por conta do site me relaciono bastante com pessoas ligadas à Body Mod e à Body Art. Sejam praticantes, entusiastas e também pesquisadores. Agora no cotidiano, são os colegas da Universidade, da academia, minha família obviamente e meu filhote Daemon (Um cachorro da raça Poodle).

Para você, quais são as ligações entre Modificação Corporal e Religião?
No meu processo de modificação, tem sim uma influência religiosa. Partindo da idéia de ter "seguido" dentro de uma temática de "anjo", que faz parte da simbologia Cristã. Além disso, venho de uma família de protestantes, frequentei a igreja até os 13 anos e deixei de frequentar por não concordar com o que era imposto pela doutrina da igreja. Sou partidário da idéia de Marx, de que a religião é o ópio da sociedade. Sou um anjo caído, sabe como é, né? (risos)

Como surgiu o FrrrkGuys?
Surgiu da ausência de espaços que "promovessem" a beleza freak masculina. De ínicio era apenas a idéia de uma galeria de meninos e posteriormente acabou se tornando um website da modificação corporal brasileira. Completaremos 3 anos agora em junho, e conseguimos alcançar um respeito e aceitação bastante gratificantes. Não sei o que o futuro reserva, só espero que possamos continuar promovendo a cena brasileira e obviamente, descobrindo cada vez mais meninos bonitos e modificados do mundo todo.

Qual foi a reação da sua família diante das suas modificações?
(Responderei aqui no sentido da reação da minha família Vs. minhas mods)
Como eu disse acima, eu venho de uma família protestante, além disso, conservadora e de classe baixa.
A construção social que havia dentro de casa era totalmente oposta à minha construção intelectual e ideológica pessoal.
Quando eu comecei a manipular meu corpo através das modificações corporais (desde 1997) foi um choque e 12 anos depois ainda é. Acho que consegui quebrar várias mitificações acerca das modificações, mas estou milhas e milhas distantes de ser aceito com naturalidade.

Como você enxerga a Modificação Corporal no Brasil?
Não tem como pensar no Brasil sem nos remetermos aos processos corpóreos que constituem nosso legado histórico. São as nossas influências, não podemos guardar isso dentro de um museu e ponto. A modificação corporal contemporânea está galgando cada vez novos espaços e consequentemente respeito. Uma opinião bem pessoal e também uma crítica, eu acho que os artistas brasileiros precisariam criar uma personalidade em seus trabalhos. Vejo muita cópia do que é feito no exterior e pouca criação. Técnicas, métodos, materiais, processos...Temos igual capacidade de manipularmos o corpo de forma fantástica. Quando será que teremos uma independência nesse sentido?
Por essas e outras que sou um árduo defensor da idéia de que não basta só se modificar, tem que pensar nos processos, evolução né?

Como você acha que a Modificação Corporal é vista pela sociedade brasileira?
Olha, comparando as décadas de 70, 80 e o ínicio da década de 90, com hoje, a visão mudou significativamente. O preconceito ainda se faz presente e talvez sempre o fará, mas atualmente temos uma série de pessoas pesquisando a temática em Universidades do Brasil inteiro e acho que o impacto desses trabalhos num futuro próximo será hiper benefíco. Sou otimista, quase utópico eu diria, e acredito que no futuro (talvez não tão distante) as modificações corporais serão absorvidas culturalmente pela sociedade de tal maneira que não haverá abismos sociais e segregações como temos hoje. Nada de cruzar os dedos e esperar, o negócio é descruzar os dedos e braços e trabalharmos para que as coisas mudem. Depende de todos nós!

Você já sofreu algum tipo de preconceito/assédio/ataque por causa das suas Modificações Corporais?
Preconceito na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê... O tempo todo se é vítima de algum tipo de preconceito quando fugimos do que está determinado como regra e padrão na sociedade. Mas veja quanta contradição, o branco sofre preconceito, o negro sofre, o oriental, o pobre, o rico, o portador de necessidades especiais, o alto, o baixo, o homossexual e o heterossexual também sofre e etc...
Seria teomania pura e desmedida querer passar por essa vida sem ser vítima de nenhum preconceito. Só acredito que precisamos mudar as medidas e as proporções de algumas coisas e principalmente romper com alguns mitos no que converne a temática.

Como você enxerga a modificação corporal nos adolescentes hoje em dia?
De hoje em dia e de hoje em sempre, como parte fundamental no processo de construção do indíviduo. Eu comecei o meu processo na adolescência e tantos outros amigos que começaram comigo não continuaram ciomo eu. Experimentações fazem parte da vida humana, quer melhor laboratório que o corpo?

Acha que a Modificação Corporal virou 'modismo'? Por quê?
Eu acho que denotar como 'modismo' soa preconceituoso. Eu acho que na verdade as pessoas hoje tem mais acesso a informação ideais de estética e beleza são outros e naturalmente um maior número de pessoas estarão inseridas dentro do contexto body mod. Vejo esses processos de forma bem natural e não como modismo.
Como eu disse acima, alguns vão experimentar e talvez não continuem... E outros vão ter isso como forma de vida e de sentir vivo.

Você acha que alguns meios a Modificação Corporal virou uma espécie de disputa?
O ser humano é competitivo e aprendemos a ser desde que nascemos. Temos que ser melhores na escola, no esporte, no trabalho, na vida.
Talvez tenha alguém dispute nas mods também... Mas acho que seria quase um monólogo no caso. Não vejo nada declarado como: "Eu serei mais modificado que você". E acho que quem se modifica dentro desse ideal competitivo está trilhando um caminho bem equivocado.

Você não se arrepende de nenhuma modificação?
Olha, não. Sou bem feliz com tudo que tenho e terei.

Você faria modificação mais extremas como amputação de membros?
Eu ainda não entendo a amputação e não faria. A modificação corporal pra mim tem como proposta a ampliação do meu corpo, um dedo a menos me faria falta, com muita certeza. •


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Foto: Roberto Assem